Memória de Curto Prazo: Como ela Funciona na Prática?

Tudo o que vivenciamos, aprendemos e temos algum contato é absorvido por nosso cérebro. Essas informações são armazenadas de alguma forma, seja na memória de curto prazo ou na memória de longo prazo.

Ambos os termos são bastante conhecidos e utilizados no cotidiano pelas pessoas. Seja para descrever o quanto se lembram de algo, ou durante uma conversa casual sobre esquecimentos, evocar a memória de curto e longo prazo é comum para nós.

Por outro lado, conhecer mais tecnicamente o funcionamento da memória humana, seus mecanismos, processos e o que realmente significam, é outra história.

Existe muito que vai além do senso comum. Tanto por isso, muitas vezes é um assunto que pode assustar de início.

Com isto em mente, decidimos produzir para o blog este artigo com o intuito de apresentar de maneira simples, porém cheia de conteúdo, o que nossa ciência sabe sobre o funcionamento da memória de curto prazo e os demais tipos.

Vamos lá?

Os tipos de memória

Diferentes informações são armazenadas de variadas formas. Tudo depende de como são transmitidas, como as percebemos de forma individual e como as utilizamos após adquiridas.

Quando recebemos um novo estímulo, ele chega a nós primeiramente de forma sensorial. Ou seja, em forma de sensação através dos nossos sentidos: audição, visão, paladar, tato e olfato.

Essa informação interpretada por nosso cérebro é primeiramente mantida para uso imediato, a chamada memória de curto prazo. Posteriormente, caso seja preciso e estimulado, ela é mantida por nós de forma permanente, ou na memória de longo prazo.

A memória de curto prazo também é conhecida como memória de trabalho. Sua principal função é garantir acesso imediato às informações recém adquiridas, dentro de um curto período de tempo.

Já a memória de longo prazo mantém os conhecimentos e informações mais fundamentais, seja por repetição ou importância, e garantem acesso à estes através de estímulos ou de automação.

Memória de trabalho

Primeiramente, quando aprendemos algo novo, isto é mantido na memória de curto prazo, ou memória de trabalho. Ambos os nomes são utilizados largamente, porém a memória de trabalho é um termo mais moderno.

Aqui são armazenadas informações curtas recebidas no momento. Estas permanecem para recordação e uso imediato, em segundos, antes de serem descartadas.

Apesar de pouco ser conhecido sobre o funcionamento exato da memória no nosso cérebro, sabe-se que a memória de curto prazo funciona principalmente através de estímulos sensoriais auditivos e visuais.

A informação transmitida por estes estímulos, não pode ser muito longa uma vez que, apresentam estudos, apenas cerca de dois segundos de tempo do estímulo são mantidos nessa memória imediata.

Essa qualidade efêmera dá origem ao nome “memória de trabalho”. Isso justamente por ser mantido por tão pouco tempo, funcionando apenas para tarefas e interações que estamos executando no momento.

Ou estas informações terão utilidade e serão utilizadas imediatamente ou não serão mais necessárias, podendo ser descartadas posteriormente.

Situações comuns que vivenciamos diariamente e envolvem a memória de curto prazo são, por exemplo, gravar um número de telefone ou de uma residência quando estamos fazendo uma ligação ou buscando um endereço.

Nomes novos, de pessoas que acabamos de conhecer, também entram na memória de curto prazo. Assim conseguimos nos lembrar deles durante a interação. Uma vez que o encontro termina, não mais precisamos dessa informação e, com isso, ela é descartada.

Manutenção da memória

Uma característica interessante e extremamente poderosa da memória de curto prazo é a capacidade da informação mantida nela ser reciclada. Isto é, fazer com que ela se mantenha em nosso cérebro por mais tempo que aqueles breves segundos iniciais.

Diferente da memória de longo prazo, neste processo não criaremos uma memória permanente. O que acontece é que o nosso cérebro manterá as informações para uso, ao invés de descartá-las completamente. Isso é possível ao se revisitar essa memória durante a interação.

Por exemplo, ao nos perguntarmos mentalmente qual o nome da pessoa com quem estamos conversando, esse estímulo fará com que o nosso cérebro acesse a memória de curto prazo e, ao utilizá-la, a retenha por mais tempo.

Mas também pode acontecer de forma inconsciente, através de estímulos ou dependendo do grau de importância que damos para aquela informação.

Experimentos com a memória de curto prazo

Como dito acima, foi identificada uma afinidade com estímulos auditivos e visuais para a retenção de informações na memória de curto prazo. Durante estes experimentos é testada a capacidade dos voluntários em memorizar sequências de letras.

Assim foi possível identificar forte afinidade fonológica, ou seja, relacionada à audição e os sons. Isso porque, ao ouvir uma sequência de letras cuja sonoridade é parecida (B, P, V) mais erros ocorriam na hora de reproduzir o que se tinha ouvido.

Estes erros acontecem pela similaridade nos sons, que causam confusão no processo de recordação. Para sequências de sons mais distintos a memória era retida com mais precisão.

Novos experimentos, que buscavam expandir os resultados a partir dos anteriores, mostraram o mesmo resultado. Os estímulos auditivos eram recordados com mais erros para palavras que soavam similares.

Atribuições de significado também são bastante influentes na nossa memória. Para estímulos visuais, por exemplo, conseguimos reter de forma mais precisa a informação para os símbolos que entendemos o significado, como letras formando uma palavra.

Além disso, vários experimentos apontaram a associação dos dois tipos de informações de forma conjunta. Quando um estímulo visual tem uma associação fonológica, como as próprias letras, elas tendem a ser recordadas mais facilmente.

Essa associação semântica e fonológica se mostrou muito importante para a memória de curto prazo.

Memória de longo prazo

Por outro lado, temos a memória de longo prazo. Esta, diferentemente da de curto prazo, possui capacidade potencialmente ilimitada e armazena informações essenciais para nós, como humanos.

Estas memórias são formadas por nossas experiências de vida, funções essenciais no nosso cotidiano e comportamento, informações que consideramos de extrema importância, dentre outras.

Muitos fatores influenciam na retenção da memória. Estes podem ser anteriores à aquisição da memória ou posteriores. Entre os que antecedem a formação da memória, temos por exemplo o grau de importância que damos para aquela informação, que interfere fortemente em sua retenção.

Esta importância pode ser emotiva, associada às condições pessoais ou que evoquem memórias afetivas e experiências de vida. Isso faz com que, no processo de formação da memória, essa associação com outras recordações que já possuímos gravadas facilite seu armazenamento.

De outra forma, essa importância afetiva pode ser associada aos nossos gostos e motivações pessoais. Os tópicos nos quais prestamos atenção por gostar naturalmente possuem mais memórias formadas e possuímos elevado interesse em armazenar informações sobre eles.

Tudo isso também facilita a formação de uma nova memória.

Utilizar repetidas vezes uma memória também faz com que ela fique registrada de forma mais permanente. Muitas destas, dada a repetição constante, passam a ser mecanizadas.

Este procedimento é extremamente comum, por exemplo, com funções motoras. Isso é notável quando tratamos de tarefas efetuadas no trabalho. Como repetimos as tarefas diariamente por muitas horas, pouco a pouco essa memória permanente vai sendo acessada por nosso cérebro de forma mais automática.

Claro que não se limita a atividades físicas. Trabalhos intelectuais, que dependem de acesso constante a informações específicas, acabam por se tornarem automáticos também.

Por exemplo, contas específicas, como as da tabuada, podem ser instantaneamente acessadas quando se precisa para aqueles que necessitam de tal informação com frequência.

Esses mecanismos basicamente formam o processo de aprendizagem. São informações utilizadas repetidas vezes para as quais damos importância. Esta é a principal função de treinamentos e estudos. Através de treinamento, trabalhadores e atletas, por exemplo, podem não só fazer melhor seu ofício, mas também de forma mais automática.

Estudantes, por outro lado, através de atividades e memorização, fazem com que as informações mais relevantes fiquem retidas em suas memórias para que tenham fácil acesso.

Como se forma a memória?

É importante também entender como exatamente nosso cérebro reconhece os estímulos e os armazena para que possamos recordar.

Porém, o funcionamento exato da nossa memória ainda é um mistério. Não se sabe, inclusive, se uma parte específica do cérebro é responsável por ela, apesar de estruturas como o lobo temporal e hipocampo estarem fortemente envolvidas.

Muitas hipóteses foram levantadas ao longo do tempo para explicar como as memórias se formam. Uma delas levanta a possibilidade de as informações serem armazenadas em impulsos elétricos que nossos neurônios utilizam para se comunicar entre si. Porém, esta se sustenta bem apenas quando tratamos da memória de curto prazo.

Uma outra hipótese é a chamada conexionista. Os neurônios, as células que formam nosso cérebro, se comunicam através de impulsos elétricos que atravessam seus corpos e são passados de um para o outro através de ramificações em suas extremidades.

Esses impulsos são chamados de sinapses. O aumento de ramificações, e consequentemente conexões, aumenta o número de sinapses. Isso é basicamente aumentar a quantidade e tipos de informação transmitida.

Assim sendo, uma nova memória é fruto da formação de novas conexões, ou sinapses.

A hipótese conexionista é atualmente a mais aceita, uma vez que experimentos mostram o aumento da atividade sináptica sob estímulos repetitivos.

Uma das hipóteses descartadas sugeria que as memórias pudessem ser guardadas em forma de RNA. Essa é uma forma de armazenação de informação através de cadeias genéticas, semelhantes ao DNA.

Estas estruturas são extremamente poderosas para a armazenagem e transmissão de informação. Não à toa eles formam todos os seres vivos conhecidos. Porém, não existem provas para corroborar que a memória seja armazenada assim.

Como lembramos das coisas

A principal função das memórias é permitir acesso a determinadas informações quando precisarmos.

Quando recebemos algum estímulo, o nosso cérebro acessa as informações que temos gravadas na memória e retorna para nós. Este processo é semelhante a uma pesquisa no computador.

Na internet, quando você busca por um termo em um mecanismo de busca, ele lhe mostra uma série de páginas que contenham aquele termo. Geralmente elas são organizadas por nível de importância ou relevância com a combinação de palavras-chave que você digitou.

O nosso cérebro faz basicamente o mesmo. Quando precisamos responder uma pergunta ou reconhecer algo, por exemplo, ele busca por padrões que tenhamos registrados e correspondam àquilo que queremos.

Uma foto antiga traz memórias da nossa infância por nos reconhecermos mais jovens, amigos da época ou locais que visitamos. Aquele estímulo visual fez o cérebro buscar por informações que correspondem a ele, seja por um padrão de cores, formas ou identificação mais específica, como de rostos.

Durante uma prova, a questão estimula nossa memória com pontos específicos de determinada disciplina. Se a informação está na nossa memória, idealmente, a pergunta ativará os mecanismos através de determinados termos que serão familiares para a gente.

Um cheiro pode nos lembrar de um local ou uma pessoa. Quando sentimos o perfume, imediatamente nosso cérebro busca aquelas sensações e puxa do nosso banco de dados mental de onde as conhecemos.

Esquecimento e problemas de memória

Algo experimentado por todas as pessoas é o processo de esquecer das coisas.

Naturalmente, com o passar do tempo, a memória a respeito de determinados assuntos pode ser perdida. Isso dependerá de fatores como a frequência de uso dessa memória.

Já é comprovado que uma memória que revisitamos de forma regular é mantida na mente por mais tempo.

Isso entra novamente no aspecto de grau de importância. Uma memória pouco utilizada é entendida como uma que pode ser descartada, para abrir espaço para outra.

Nosso organismo está constantemente tentando economizar recursos e fazer um uso mais otimizado deles. O cérebro humano gasta muita energia, mesmo quando em repouso. Dessa forma, quanto mais pode-se descartar, mais energia é economizada para o que realmente utilizamos.

Assim, quando formamos uma nova memória, uma forte tendência é ocorrer a substituição das mais antigas, ou aquelas em desuso, por esta que parece mais importante agora.

Outro fator é a degradação natural de nossas células. Elas, como organismos vivos, tendem a se danificar com o passar do tempo por diversos fatores. Mesmo as que se substituem de maneira rápida, como as da pele, sofrem o efeito do tempo através de erros genéticos que naturalmente ocorrem.

A amnésia

A chamada amnésia é diferente do processo de esquecimento. Como vimos, esquecimento é a perda de uma memória formada. Amnésia, por outro lado, é um comprometimento na capacidade de reter as memórias, sejam elas passadas ou novas.

Amnésias são causadas sempre por agressões ao cérebro. Traumas físicos, como pancadas, por exemplo, podem gerar lesões que levarão à perda temporária ou permanente de memória. Estes, inclusive, podem afetar fortemente a memória de curto prazo.

As lesões decorrentes podem fazer com que o indivíduo não se lembre de eventos que ocorreram antes do trauma ou depois. Há, inclusive, forte correlação entre a intensidade da pancada que causou a amnésia e o período de tempo que a amnésia engloba.

Ou seja, quanto mais forte a pancada, mais eventos são esquecidos.

Outros fatores, como consumo de álcool em excesso, podem levar à amnésia devido aos seus efeitos no hipocampo.

Doenças como o Alzheimer também comprometem de forma severa as atividades cerebrais e, consequentemente, prejudicam a retenção de memória.

A memória humana

Como vimos, uma série de processos e fatores influenciam o surgimento das memórias de curto e longo prazo. Esse sistema foi fundamental para o desenvolvimento da sociedade humana.

Nossos cérebros são máquinas poderosas e intrincadas, com capacidade de processamento altíssima.

Cada estímulo que recebemos é minuciosamente codificado pela nossa mente e analisado. Sua importância e relevância são analisadas em frações de segundo e, se necessário, conseguimos armazenar cadeias complexas de informações por tempo indeterminado.

Quando associamos características como a complexidade fonética de nossas línguas à semântica da escrita e outros símbolos, temos um poderoso sistema de comunicação que contribui de forma singular para a formação de uma detalhada memória.

Não apenas isso. Adicione ainda a vida em sociedades ativas e vínculos afetivos profundos. O emocional cumpre papel fundamental na formação da memória. Quanto mais significado implícito há numa situação, mais a retenção de uma memória é estimulada.

E ainda, nossas sociedades cada vez mais informatizadas e globalizadas nos dão acesso a uma quantidade sem precedentes de informação. Hoje, seja sobre o que se queria aprender, é possível ter acesso de alguma forma.

Essa gama de interesses apelam a todo tipo de pessoa, fazendo com que cada uma possua seu próprio conhecimento e corpo de memórias e informações altamente rico.

Outras ferramentas, como a escrita, desde que surgiram, permitiram aos povos armazenar memória de outras formas. Essa capacidade de ter informações fora da nossa mente, disponíveis para todos em um código que qualquer um pode compreender, foi crucial para a transmissão de conhecimento e evolução da nossa sociedade.

Falando de forma mais simples, é como se tivéssemos um poderoso HD em nossa cabeça e, com a escrita, infinitos cartões de memória e pen drives para armazenar ainda mais coisas.

Concluindo, da próxima vez que estiver lendo um livro ou vendo um filme, tente observar em como o que você vê e ouve, e os estímulos que recebe, ativam sua memória.

As falas de um personagem e descrições do cenário ficam na sua memória de curto prazo para que entenda a cena.

Para a de longo prazo, veja como os símbolos, padrões de cores e música são utilizados para gerar reações em você através da memória de obras passadas e clássicas, ou simbologias do imaginário social que você teve contato desde criança.

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