6 poemas sobre o mar e seus encantos por poetas modernos e antigos

O mar sempre foi objeto de grande atenção dos homens de todos os tempos.

A sua imensidão, o seu encanto, os seus perigos e algumas outras qualidades evocaram sentimentos muito fortes ao longo dos tempos.

Pessoas de tempos muito distantes, contemplando-o e sem saber o quanto se esconde atrás do horizonte, fantasiavam com monstros, terras e muito mais.

No entanto, hoje, embora muito mais se saiba sobre ele, o mar não esgotou as suas possibilidades e deixou de inspirar quem o contempla.

Por isso, preparamos uma seleção de 6 poemas marinhos em português, assinados por poetas antigos e modernos, para que você aprecie as diferentes abordagens dessa fascinante criatura.
Gostar de ler!

Poemas sobre o mar

Passei o dia ouvindo o que o mar dizia, de António Botto

Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Choramos, rimos, cantamos.

Falou-me do seu destino,
Do seu fado…

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma,
E o seu perfume faz mal!

Deserto de águas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?…

Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado…

Ao longe o Sol na agonia
De roxo as águas tingia.

«Voz do mar, misteriosa;
Voz do amor e da verdade!
– Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trêmula voz de quem parte…»
. . . . . . . . . . . . . . . .

E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!

Em uma tarde de outono, de Olavo Bilac

Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono… Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto…

Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?

A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos…
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!

E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol…

Oceano nox, de Antero de Quental
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente…

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais…

O Mar agita-se, como um alucinado, de Alberto de Oliveira

O Mar agita-se, como um alucinado:
A sua espuma aflui, baba da sua Dor…
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador.

Dá-lhe um aspecto estranho a campânula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!

E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:

Assim devemos nós, Poetas, no Mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar
— Pois a Arte é, para nós, o escafandro das Almas!

Uma após uma as ondas apressadas, de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Uma após uma as ondas apressadas
Enrolam o seu verde movimento
E chiam a alva espuma
No moreno das praias.

Uma após uma as nuvens vagarosas
Rasgam o seu redondo movimento
E o sol aquece o espaço
Do ar entre as nuvens escassas.

Indiferente a mim e eu a ela,
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso
De se esvair o tempo.

Só uma vaga pena inconsequente
Para um momento à porta da minha alma
E após fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada.

Carta ao mar, de António Gomes Leal
Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
– Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, – vasto e úmido jazigo!

Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!…
Mas também, quem te pôde consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! –
E, contudo, ouve-o aqui, em confidencia;
– A Musica é mais triste inda que o Mar!

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